Quando eu tinha 8 anos, queria andar de bicicleta. O meu irmão tentou ensinar-me, mas eu não conseguia. Depressa desistiu de mim.
Até que um dia foi o meu pai que decidiu ensinar-me. Para minha desgraça. Ainda me lembrava das suas lições da tabuada, das contas de multiplicar, sempre acompanhadas de estalos e gritos. E aquele "olho à belenenses" por causa daquele erro ortográfico? Eu tremia por dentro e por fora.
Uma, duas, três vezes. Sempre a mesma coisa e quanto mais ele me insultava mais eu falhava.
À quarta vez, no momento de me largar, deu um empurrão muito forte que só poderia ter um resultado. Caí com força. Muita força. Ainda hoje tenho a ferida. Ao levantar-me, no meio dos risos e da chacota geral, olhei para trás e o meu pai já ia longe vociferando, só lhe via as costas.