terça-feira, 15 de agosto de 2023

Quando eu tinha 8 anos, queria andar de bicicleta. O meu irmão tentou ensinar-me, mas eu não conseguia. Depressa desistiu de mim.

Até que um dia foi o meu pai que decidiu ensinar-me. Para minha desgraça. Ainda me lembrava das suas lições da tabuada, das contas de multiplicar, sempre acompanhadas de estalos e gritos. E aquele "olho à belenenses" por causa daquele erro ortográfico? Eu tremia por dentro e por fora.

Corria ao meu lado segurando a bicicleta pelo selim, num parque de estacionamento cheio de crianças e adolescentes do bairro. Mal ele me largava, eu perdia o equilíbrio e estatelava-me no chão para delícia dos espectadores que explodiam em gargalhadas tão sonoras que mais de 40 anos depois, ainda as ouço.


Uma, duas, três vezes. Sempre a mesma coisa e quanto mais ele me insultava mais eu falhava.

À quarta vez, no momento de me largar, deu um empurrão muito forte que só poderia ter um resultado. Caí com força. Muita força. Ainda hoje tenho a ferida. Ao levantar-me, no meio dos risos e da chacota geral, olhei para trás e o meu pai já ia longe vociferando, só lhe via as costas.

Nem eu, nem ele sabíamos,
que foi naquele momentos que tínhamos morrido.

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