quarta-feira, 20 de outubro de 2021

SAD...BUT TRUE!

Estou a ficar mesmo velho. É um facto, não só biológico como cultural.

A realidade dos dias não ajuda! Há uns dia atrás, abro a Revista do semanário "Expresso" e vejo uma reportagem que literalmente me atropelou : Metallica festeja os 30 anos do lançamento do "Black Álbum". Trinta anos. três décadas. Para alguns putos com quem eu trabalho, é mais do que a sua inteira vida biológica. Isto faz um homem pensar; pensar no que mudou, no que se perdeu e no que se ganhou, até porque parece-me que foi ainda ontem que eles lançaram o "álbum preto".

Qual Madeleine de Proust ( o gajo um dia morde um bolinho- uma madalena- e o seu sabor, leva Marcel Proust a uma incrível viagem de memórias pelo seu passado, infância, adolescência, etc, que o leva a escrever doze incríveis volumes "Em busca do tempo perdido".Esta reportagem levou-me tembém numa viagem ao passado, aos anos 90, e às tardes do verão de 93/94 que eu passei em casa do meu amigo Sérgio " Xico Metaleiro", que tinha, se a madalena não me engana, os LP's - vinil claro - "Ride The Lightning" "...And Justice For All" e o magnífico "Master Of Puppets". Lembro-me também de, no quarto dele estar a ouvir e  a admirar a incrível capa do álbum "Ride The Lightning"  e de reparar no ano de edição - 1984- e pensar para mim, que eles tinham a minha idade na altura que fizeram o álbum ( 18/20 anos). 

Escrevo isto porque o " Black Álbum" é o álbum que os chamados "puristas" - uma espécie de "talibãs do heavy metal" adoram odiar. São aqueles fãs, esses energúmenos, que dizem que a banda haveria de ter acabado ali, que "traíram o movimento", apenas porque, com esse álbum, eles alcançaram a fama planetária ( o que traz, claro, muitos seguidores duvidosos, falo daqueles que apenas vão na onda da moda e daquilo "que está a dar). O que os chamados "puristas" do "Trash Metal" esquecem, é que muitos deles ( a maior parte, incluindo eu ) ainda andavam na Rua Sésamo enquanto eles (os Metallica ) viviam, comiam, dormiam em autocarros velhos, de cidade em cidade e de país em país, a darem concertos atrás de concertos, muitas das vezes mal pagos e muitas das vezes roubados. Culparem os Metallica por envelhecerem é para mim, no mínimo, desprezível. Ouvi há tempos um desses merdosos "youtubers" coma a sua barba e convenientes tatuagens, dizerem que os Metallica deviam ter acabado depois do "St. Anger". E dei comigo a pensar, que  quem lhes dera a eles, que quando tiveram 60 e mais anos, eles ainda sintam uma "Santa Raiva". Existe uma grande distância entre abrir um canal de youtube com um email  e criar uma verdadeira obra que inspirou e deu alegrias a milhões de humanos pelo mundo fora durante décadas.

Claro que tudo isto é culpa dos culpados do costume: a mediocridade dos média, tanto aqui (Switzerland) como em Portugal e no resto do mundo inteiro, as rádios passam Metallica: mas sempre, sempre e sempre, um só tema: " Nothing Else Mathers". É muito triste, pensando na vasta obra criada.  A banda teve uma dúvida que passou a ser um presságio assustador do futuro, quando a apresentou pela primeira em público «pensamos que o pessoal iria começar a vomitar». Mas serão eles culpados da mediocridade e pobreza dos 99% ( ou mais ) da população mundial, que não quer ouvir na rádio de manhã e a caminho do trabalho, o tema "Master of Puppets"

NÃO ENTENDO DJ'S

Um dia, no parque aqui ao pé de minha casa, junto ao lago de Neuchâtel, encontrei um grupo de jovens da universidade, que fica aqui ao lado também, a fazerem um piquenique. Enquanto comiam e conversavam, ouviam aquilo que eu chamo - e já por si só é um sinal de velhice - "as músicas deles", ou seja, "tecno" e nem sei se é "tecno" (outro sinal provável de velhice). Chamou-lhes à atenção a minha t-shirt dos Sepultura "Irise"  e começamos a conversar, e eu pedi-lhes que me deixassem ouvir um pouco das "músicas lá deles", para até em conversas futuras ter uma referência ou duas. Mal coloquei os phones nos ouvidos que passados 20 segundos eu já estava a dizer-lhes algo que me soou familiar « Isto não é músicaaaa» assim como dei por mim a dar-lhes sermões « No meu tempo » E isto é de facto um sinal de velhice « No meu tempo cada música tinha um solo furioso de guitarra de 2 minutos, as músicas eram sobre adorar um demónio qualquer, e cada álbum tinha uma balada e pronto!». Não podiam ter sido mais educados, e riram, riram comigo e acho que até entenderam...ou não? Mais tarde deflecti e lembrei-me que era exatamente isso que os mais velhos me diziam quando eu tinha a idade deles. Lembro-me de minha mãe falar das verdadeiras virtudes da obra de António Calvário e da música "Oração" e da vasta obra de Frei Hermano da Câmara e dizer-me que o que eu ouvia «Isto não é músicaaaa!». Envelhecer coloca-nos em posições difíceis. Por outro lado, quando eles ( os jovens ) ouvem "a minha música", eles gostam, porque tem letras e uma mensagem. Eles ouvem "System of a Down" ou "Rage Against the Machine", ou o álbum "Roots" dos Sepultura e gostam e apreciam a mensagem, e eu por outro lado não gosto de gajos que apertam um botão do laptop descarregando uma playlist e passam as duas horas seguintes  a abanar o braço coma a mão no ar. Por isto, EU É QUE TENHO A RAZÃO. Isto sim é o último e derradeiro sinal de velhice, mas quero que se foda! há há há...!

A ÚNICA COISA BOA DE ENVELHECER:

É estar-se a cagar. Faço o que quero quando quero sempre que quero, digo o que quero a quem quero como eu quero sempre que quero e as vezes que quero. Porque já não acredito em nada. Perder o filtro e não ter misericórdia por ninguém é um sintoma de envelhecimento e ainda bem.

Todos nós envelhecemos e morremos... e eu estou grato por ter vivido o último do movimentos artísticos  da música de confrontação e contestação social, cultural, racial e religioso. Depois do  do Blues, o Jazz, depois do Jazz, o Rock n' Roll com os Hippies, depois os  Punk's e depois o Heavy metal e depois.... um inverno glaciar de ideias.  sad, but true assim com envelhecer.

Metal rules! e parabéns aos Metallica.

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