sexta-feira, 20 de maio de 2011

Kid Galahad

O Hugo era um tipo abrutalhado. Não era por mal. pedra bruta, era a sua natureza. Certa vez, depois de ter faltado 5 dias dias, a directora de turma perguntou-lhe a razão, ao que ele respondeu, inocentemente e com um encolher de ombros, "Estive de caganeira". Ela tentou disfarçar o riso. Nós não.
O Hugo travava uma luta diária com a literacia, e estava a ganhar. Num teste de Português copiou tudo pelo Nuno, e quando o Hugo copiava, o Hugo copiava mesmo: palavra por palavra - o que, curiosamente, não passou despercebido à stôra.
Gostávamos de jogar à sueca com o Hugo porque dizia "trrrunfo" e porque fazia passagens para apanhar a manilha que corriam sempre pro torto. Não gostávamos de jogar às cartas com o Hugo porque demorava eternidades a jogar, mesmo que só tivesse uma única carta na mão.
Uma vez gabou-se de ter beijado a Teresa. Tinha bebido da mesma lata de 7-Up e, explicou ele, pela regra da transferência isso era o mesmo que tê-la beijado nos lábios. Não era, asssegurou-lhe o Xavier, que ia diariamente para trás do refeitório com a Patrícia dar linguados à francêsa e por isso era, de todos, a maior autoridade  no assunto.
Às vezes fazíamos concursos a ver quem conseguia fazer chegar um fio de cuspo mais perto do chão e voltar a sorvê-lo e ele ganhava sempre. Até conseguia puxar papéis do chão, se levasse gosma q.b na ponta. Não folhas A4, mas os papéis das pastilhas Gorila e isso.
Nas aulas de Educação Física o Hugo perguntava às meninas se lhe queriam ver a pila. Elas diziam que não, mas ele mostrava na mesma. Mas quando jogávamos ao mata, todos queriam ficar na equipa dele, porque ele levava aquilo muito a sério e a probabilidade de alguém morrer era bastante real. O João que o diga, que levou uma bolada na nuca e ficou o resto da aula a babar-se no chão do ginásio, branco como a neve.
O problema do Hugo era ser muito competitivo. Uma vez fizemos um concurso para ver quem conseguia suster a respiração por mais tempo. O João aguentou quase dois minutos, até ficou roxo e tudo, mas o Hugo ganhou. Quase morreu, mas ganhou. Era um rapaz burro, bruto e ignorante. Fazia tudo o que fosse preciso para se safar. Era batoteiro e mentiroso, gabarolas e covarde...mas era a sua natureza. E a natureza sabe o que faz. Hoje, Hugo é chefe de departamento de uma grande empresa. Está bem de vida. Frequentemente viaja, sem interesse, para países que nós não conhecemos. Frequentemente muda de carro. Frequentemente trai a mulher. Frequentemente é aumentado, e já há lá na freguesia quem o pressione para se candidatar à presidente. E vai brilhar! Tenho a certeza disso. Porque a natureza sabe bem o que faz.

1 comentário:

carpe vitam! disse...

lololol. estou a rir-me mas sei que tens razão e é triste. mas quando venho aqui, não sou capaz de deixar de rir :)