quinta-feira, 21 de abril de 2011

Anos De Ouro

No infantário, quando me perguntavam o que é que eu queria ser quando fosse mais maior grande, fazia sinal com a minha mãozinha  para esperarem, ia a casa buscar o filme Os Doze Indomáveis Patifes, voltava e , apontava para a cassete Beta Max e dizia " qué-o sê ito". Ao contrário dos meus colegas, que queriam todos ser médicos, jogadores de futebol ou astronautas, eu queria era ser mau como as cobras. Queria ter a tenacidade do Lee Marvin, o olhar gélido e intrépido do Clint Eastwood e o desprezo pela vida humana do Charles Bronson. O meu pai ria-se e, despenteando-me paternalmente o cabelo, dizia-me que não podia ser um polícia justiceiro duro com'ó aço que agia à margem da lei em busca de vingança na S. Francisco dos anos 70, nem podia fazer parte de um bando de cowboys implacáveis ou entrar em missões suicidas em nome da CIA, porque era um covarde.
Algum tempo passou, amadureci com a 1ª classe e, gorado aquele sonho, decidi que o que eu queria era ser bom e sexy. A minha mãe sorriu, chamou-me "patetinha" e perguntou-me se já me tinha visto bem ao espelho.
Cheguei então à conclusão que só me restava uma saída: queria ser uma estrela do rock'n'roll. Fazer música da pesadona, solos de guitarra de 45 minutos e ter miúdas a fazerem-me coisas que na altura não sabia muito bem o que era mas que, a julgar pelos filmes franceses que passavam na RTP 2, pareciam porreirinhas da silva. A gargalhada em casa foi geral. "Mas tu não tens nem nunca vais ter talento para absolutamente nada!", exclamou a minha família em uníssono naquela noite de Natal.
Os anos passaram e eu aprendi a esconder dentro de mim todos os meus insondáveis sonhos, acreditando que jamais na vida teria valor para os concretizar mas recusando-me a deixá-los morrer.
Em boa hora o fiz, pois a minha fé e perseverança heroica venceu e hoje sou tudo o que alguma vez quis: