segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sonhos de Menino

Gostava me tornar num novo-rico. Por um lado, ainda sou novo e tenho hipóteses. Por outro, a torneira dos fundos perdidos da UE já secou. Algo me diz que isso pode constituir um entrave à realização deste meu sonho...Mas há sempre outros apoios! Nova Empresa, criação do Emprego, fundos pr'aqui e pra'cóla! no fundo é so papelada.
Devia ser bom. Não tinha que trabalhar muito e teria gostos simples. Música pimba. Futebol Clube do Porto. sandes de coiratos e torresmos o dia todo. As pessoas podiam rir-se de mim mas eu é que tinha o dinheiro. E jipes!!
Eu seria um tipo ambicioso. Estou a imaginar-me a ir ao banco dar a entrada para a vivenda. Qualquer pessoa de sucesso tem uma vivenda. Tudo bem que eu sou um tipo para o sub-urbano, mas o crédito existe para quê? Quando olhamos para os vizinhos e vemos que eles compraram uma vivenda, é de uma pessoa ficar com inveja.
Comandaria os meus próprios negócios. Os meus empregados seriam todos corridos a recibos verdes para poupar nos salários e ainda ganhar algum no IRS. Investir? Claro. A fachada do armazém de construção civil tem que se mudar de tempos a tempos.
Que momentos de lazer eu teria? Levaria a filharada e a mulher comigo e faria viagens no meu jipe, onde apreciaria, de olhos fechados, a sonoridade introspectiva de Tony Carreira. E não me inibiria de evacuar mesmo junto à estrada se a vontade apertasse: a família ficava no carro; a porta ficava aberta de modo a difundir a música; e eu, ali, junto aos arbustos, num momento de descontracção. Era diferente.
Dizem que os novos-ricos têm mau gosto. Pois eu faria gala de o mostrar. Para que é que serve a cultura? Para conhecer mais? E para que é que isso serve? Eu é que teria o dinheiro...
Queria lá eu saber da União Europeia ,das pespectivas da economia no segundo semestre. Queria lá eu saber do referendo. Queria lá eu saber do risco de estrangulamento em 2014 da Caixa Geral de Aposentações. Eu queria era safar-me. Os tipos que andam sempre preocupados com o Conhecimento estão sempre tesos. Os intelectuais: todos pobres. Algum dia alguém viu um patrão preocupado?
E aos fins de semana, convidava uns amigos para ver a minha casa de família de modo a que pudessem constatar o quanto eu tinha progredido socialmente desde a semana passada: que tinha mudado de jipe, que estava a instalar uma piscina e que tinha um plasma para ver os jogos do Porto na SportTV.
E aí sim, eu tornar-me-ia numa pessoa extraordinária
"E aquele menino voltaria a ser..."

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