sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

TOTOLOTO NEGRO

Um conto de fim de semana, pelo eminente poeta, romancista, filosofo e líder espiritual Sam
Trabalhava num escritório bafiento e com uma atmosfera pesada, densa, num prédio degradado e de mau aspecto, sujo e cuja iluminação da escada imunda nem funcionava.Tratava de papelada que não interessava a ninguém.Mas que por Lei teria de ser guardada.Gostava de se apresentar como "Arquivista" quando alguém o inquiria sobre a sua profissão, nas parcas e escassas conversas que tinha aqui e ali, visto ser um solitário.Tudo naquele escritório era velho...As luzes do candeeiro do tecto, davam uma tonalidade amarelada e doente à divisão...O próprio papel dos infindáveis documentos, processos, pastas, estava amarelecido...Aliás, ali até o papel novo parecia envelhecer assim que entrava porta adentro.As janelas estavam com as persianas cerradas, pois como se tratava de uma cave, assim evitava-se que a urina dos cães ou dos bêbedos penetrasse nas frestas.Era um dia invernoso, de inverno, chovia muito e estava frio e vento.O dia estava negro.Nesse dia ele estava muito deprimido.Decidiu então terminar com tudo.Já não era novo e sabia que não teria muitas chances de mudar de vida.Sabia estar condenado a ter aquela vida deprimente até ao fim dos seus dias, ou até à idade da reforma, o que fosse que chegasse primeiro...Tomou uma dose generosa de ansiolíticos, que já tomava, mas sob prescrição médica e em doses suaves.Deixou-se dormir na sua cadeira velha e com o tecido muito roçado e não acordou mais.Foi descoberto nove dias mais tarde quando ao fim de tanta queixa de mau cheiro por parte dos poucos habitantes daquele prédio velho, o seu chefe decidiu ir lá averiguar o porquê da situação.O chefe nem tinha ligado quando o tentou contactar pelo telefone para o "arquivo" já que imaginava que ele tivesse pura e simplesmente abandonado o mesmo...É que ele tinha sabido por intermédio de outros colegas que trabalhavam lá na sede que a chave de totoloto que ele usava há mais de dez anos tinha calhado no sábado passado.E pensaram que pura e simplesmente ele tivesse ido gozar a vida.Tinha sido semana de jackpot, e só tinha havido um totalista.O chefe não conteve uma lágrima de alegria quando vasculhou na carteira abandonada em cima da secretária e lá estava o ticket que provava a combinação vencedora...
Moral da cêna :
Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, Choose washing machines, cars, compact disc players, and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol and dental insurance. Choose fixed- interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisure wear and matching luggage. Choose a three piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing sprit- crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing you last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked-up brats you have spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life... But why would I want to do a thing like that?
Irvine Welsh, Trainspotting

8 comentários:

Blimunda disse...

Por momentos pareceu-me estar diante de um excerto de "Todos os Nomes", salvo seja, do nosso Nobel.
Ganda canalha aquele chefe, heim!!!

Sam disse...

É a vida amiga, tal como ela é !

Vício disse...

eu estive quase para ler, mas aquele azul da moral chamou-me a atenção e como vi que a moral está em inglês e não estou com vontade de traduzir aquilo... xau!

Sam disse...

Foda-se, nem é preciso caralhe, nunca biste o Trainspotting ??

I.D.Pena disse...

Fdx gostei!
Pelo sim pelo não, vou medir a minha temperatura.

Sam disse...

queres o meu "termómetro " ?

escarlate.due disse...

moral da história... ahahahahahahahahhaahahhaahh

Sam disse...

LOL