quarta-feira, 15 de junho de 2011

ADEUS TWIKI, ADEUS NUNO GOMES


As recentes notícias tiveram o efeito de me deixar momentaneamente soterrado em nostalgia. Daquela cinzenta e peganhenta que nos deixa a remoer e a maldizer da nossa sorte de crescermos. Ou do mítico Glen A. Larson por ter tido a desastrosa ideia de deixar de produzir o Buck Rogers no Séc.XXV. Isto sim é futuro a sério, qual Espaço 1999, qual carapuça. Um gaijo que quer fazer um filme no futuro faz logo sobre o Séc 80.000, praí, para ter a certeza que não vai estar vivo nessa altura senão passa a vergonha de toda a gente ver que o futuro que imaginou era uma grande aldrabice! Ora o gaijo do Espaço 1999 achava que desde os anos 70, tanta coisa ia mudar? É certo que, entretanto, até o José Cid já pousou nu, mas então ainda andam gaijos de afro na rua! E o Eládio Clímaco continua paneleiro!Mas lembremos então Buck Rogers: Um astronauta canastrão com ar de pai do Starbuck da original Galáctica (a que tinha as naves penduradas por fios de nylon), que é também o Face Man dos Soldados da Fortuna (recuso-me a dizer o título em brasileiro), fica congelado no espaço e é recolhido uns 500 anos depois pelos bons, mas com uma vontade tremenda de fazer uma mijinha antes de se meter no meio da luta contra os maus e dar cabo deles todos. "Sozinho?" perguntam os inberberes ou os Alzheimados. "Não sei, porque a cena da mijinha não se vê", respondo eu. "Mas um herói solitário nas séries dos anos 70 e 80 nunca tinha piada, a não ser o Caine do Kung Fu e o Cão Vagabundo", junto. Assim o bravo Buck Rogers, com uma energia inesgotável produzida a partir de sandes de coirato e copos de três, junta-se à pequena fanfarra de gente que faz parte de um esquadrão de naves de cartolina, leds e botões quadrados – Entre eles a Coronel Wilma (a gaija da série - naturalmente loura, naturalmente melodramática e naturalmente a mandar os seus longos cabelos para trás das costas com um flic de pescoço cada vez que se mexe), o Dr. Theo (um holofote que acende e apaga e que é, sem surpresas, a personagem mais inteligente da série) e a razão da minha angústia, do meu desassossego, da minha melancolia, da minha saudade – o Twiki.O Twiki era um robot pequenino amarelo com cara de miúdo que dizia "bidi-bidi-bidi" entre cada bocadinho e era o melhor amigo do Buck Rogers, mesmo sendo muito melhor actor e muito mais dinâmico apesar de se mexer como se mexe um anão preso num fato de lata com dobradiças. O Twiki era o herói na sombra, o mais divertido, inesperado e também ansiado por toda a gente. Por vezes irritava um pouco pelas suas trapalhadas repetitivas e às vezes até dizíamos numa voz um pouco mais arisca "Porra Twiki!". Mas rapidamente nos arrependíamos e nos voltávamos a deixar encantar por este boneco de lata, pois os momentos de boa disposição e humor burlesco eram quase impagáveis.Mas inesperadamente, o Twiki foi-se. E com o fim do Twiki ao fim da tarde de cada domingo, acabaram-se aqueles doces momentos de prazer que nascem do carinho que nos merece a simpatia de quem nos foi conquistando aos pouco. Senti-me só. Descompensado, incompleto. E apenas há uns anos voltei a descobrir esse pedaço do meu "eu" emocional que me roubaram numa sombria tarde de Domingo: Tinha um vocabulário mais limitado que o "Bidi-bidi" do Twiki, mas tem o mesmo ar de menino, os mesmos movimentos trôpegos, a mesma griffe atijelada, a mesma tendência para o burlesco. E quando o via, cada fim-de-semana, havia algo em nós que se consolava e se renascia. Nunca haverá outro Twiki, é certo, e agora também já não teremos o Nuno Gomes…é o início do fim da nossa juventude.

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